sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

|::| Bom, bonito e barato

Ele era um cara valente. Bom de briga, sabe? Do tipo "vai encarar?" Aos três anos já havia destruído um exército de comandos em ação. Sua irmã, coitada, apenas dois anos mais velha, enterrara sua Barbie no cemitério da família, prevendo um fim violento para sua mais querida posse, após testemunhar o transplante de rins, sem anestesia, que ele insistia ser essencial para que Susi continuasse a viver. 
Dois anos depois, durante uma fase mais zen, ele juntou todos os seus cavaleiros do zodíaco para uma meditação coletiva, em busca de desenvolver o décimo sentido, que lhe permitiria enxergar através das paredes. Frustrou-se porque só conseguiu chegar à metade do quinto, que consiste na interessante habilidade de ver pelo buraco da fechadura. Triste, sim, porém nunca desanimado, após alguns anos perseguindo seu objetivo, ele ainda foi capaz de aprender a incrível habilidade de decifrar as legendas das fotos da Revista Caras. 

Sim, ele era bom. Ele era ele. Ele era mais que ele. Ele estourava bexigas com as grafites de sua lapiseira prateada. Ele pintava quadros surrealistas usando apenas uma mão. Descia o escorregador com os braços para cima e olhos fechados. Ele tinha espírito aventureiro. Radical. Vivia perigosamente. Tocava a campainha dos vizinhos e ainda contava até cinco antes de correr. No esconde-esconde, só brincava de óculos escuros e fones de ouvido. No pega-pega, só abria o olho esquerdo.

O que ele não imaginava é que aos treze anos enfrentaria o pior de todos os pesadelos juvenis: a sétima série. Nunca mais seria o mesmo. Pra piorar, sua irmã, agora com quinze anos, menstruava, beijava garotos na frente dele e dançava lambada com a vassoura. Sua valentia minguava, pouco a pouco. Mesmo com doses cavalares de sustagem e biotônico, ele se via diminuindo, secando, degringolando.

Em fevereiro de 2012, quando viu no plantão da globo que o mundo já estava acabando, ele não sabia se sorria ou se chorava, se corria ou se deitava. Só um pensamento pulsava em sua cabeça: o mundo vai acabar de trás pra frente, ou de frente pra trás?

7 comentários:

Elen Gruber disse...

Kelson, menino danado!

Nunca li nada desse tal de Nietzsche, mas já li Gabriel Garcia Márquez e este texto está muito parecido com a forma como ele escreve: Às vezes dramático, outras vezes cômico ou os dois ao mesmo tempo.

Bom... Se o mundo vai acabar de trás pra frente, ou de frente pra trás? Não sei. rs.
Só sei que nessa confusão de sentimentos, pensamentos e anseios, que às vezes somos acometidos, acabaremos do avesso e nos destruiremos antes mesmo do mundo virar de ponta cabeça. Sorte da Barbie que já previa o perigo iminente e hoje descansa debaixo da terra.

Kelson Fernandes disse...

Nossa. Quase chorei com essa comparação com o tio GaGá, embora seja muito mais que exageradíssima. Ele e o Zé (Saramago. Percebem a intimidade, né?) são meus autores preferidos.
Precisei comentar o comentário...

Josh disse...

Kelson, quando crescer quero escrever que nem você...
Elen, você é demais! Adorei o comentário!

jito disse...

hahahaha..

acho que isso é só! rs

jito disse...

ahh.. kelson, quando eu crescer, quero escrever MELHOR que vc!

sim, pq eu não tenho a auto-estima baixa!

hahahhahahahahaha

Josh disse...

Alguém me ajude... agora eu tenho auto estima baixa! Nem eu sabia disso... mas beleza... a despeito das minhas falhas prefiro desprezar minhas virtudes em prol do livro dos outros. Gente, será que só eu que não escreverei um livrete? Jito, quero escrever igual a você quando crescer. Já que tenho auto-estima baixa, tá valendo...

jito disse...

hahaha..

kel, vc deve estar radiante de felicidade ao ver que o seu blog, constrído a muito custo e criatividade, transdormou-se em um "ring".. hahaha

josu.. vc é o melhor e mais promissor estudante de psicologia que conheço. (falo sério) rs