terça-feira, 13 de janeiro de 2009

|::| Abrindo o livro de receitas

Sim, tenho brincado de ler Nietzsche. Às vezes é preciso, ué. 

Talvez o normal seja buscar respostas aos conflitos que vivemos, mas, ao invés disso, tenho buscado o material necessário para que eu torne inteligíveis as questões que me atormentam e estimulam tanto. Mesmo porque não quero me satisfazer com respostas postiças. Assim como não me contento em viver uma vida postiça, uma vida que não é a minha. Obviamente, sou uma montagem individualizada a partir de muitos elementos já existentes. A novidade não está nas partes, mas no todo único e original que é a vida de quem escolhe pagar o preço de uma existência sincera. Há anos venho pagando esse preço. Às vezes em suaves prestações, às vezes não. Talvez seja aquele processo ao qual o fundador da psicologia analítica aplicou o termo "individuação". Não sei se é padecer no paraíso, ou rejubilar-se no inferno.

Gosto muito do uso que a antropologia faz do conceito de "bricolagem" para descrever a formação das culturas. Acredito que nós também somos frutos de usos e reúsos, de interpretações e reinterpretações, de montagens complexas e articulações multivariadas. Talvez por isso eu continue escolhendo enxergar  novas cores nessa tão multicolorida forma de vida, que é o ser humano. Mais que isso. Não se trata apenas de nossa espécie, mas de tudo: do ar, do mar, do amar, enfim, do universo. 

Mas o alargamento de nossa percepção, o processo de abertura de nossa visão e da sensibilização de nossos olhos à riquíssima gama de cores que a vida possui, é inevitavelmente acompanhado de uma certa dor, embora seja engraçado constatar que a dor não é inevitavelmente dolorosa. O desconforto natural que o crescimento produz sempre pode ser reinterpretado.

Gosto de ser preenchido com as várias respostas e perguntas que encontro enquanto me movimento pelo mundo para depois chacoalhar a minha mente, curtir a confusão, quebrar-me em minúsculos pedaços, juntar tudo novamente e descobrir novas possibilidades de vida. A cada vez que me remonto, descubro-me mais e maior.

Por que não provar essa deliciosa salada de frutas?

4 comentários:

Elen Gruber disse...

Elas, as não postiças, são tão difíceis de encontrar quanto à vida com suas perturbações é de se entender. Sempre saio perdendo nessa brincadeira de esconde-esconde. Talvez o divertido seja se entregar a este mistério e seguir vivendo conforme as pistas, o cheiro, as cores. Quem sabe assim consigamos um chá de erva doce.

Unknown disse...

Brincando de ler Nietzsche?! hahha

jito disse...

haha.. curioso! Eu imaginei que esse post nao haveria muitos comentários. Acertei! rs

sabe o melhor de sermos "montagens individualizadas"? è que, como mozaicos, podemos ir substituindo pedaços que já não fazem mais sntido.

Unknown disse...

Seus textos estão ótimos, Kelson!! Muito bom mesmo!! Vou acompanhar sempre!!
Abraço!!