terça-feira, 28 de dezembro de 2010

|::| Dos desejos para o próximo ano

Madruguei novamente. É como se o fim do ciclo ao qual demos o nome de "ano" me forçasse a pensar, a repensar e a me preparar para as novas escolhas que se abrem diante das possibilidades a que me expus ao longo deste ano.

Há momentos em que eu queria enxergar mais e saber para onde estou indo. Mas há vezes em que eu simplesmente gostaria de sentir a paz da crença de que absolutamente não é possível fugir do processo de se tornar o que se é. Mais cedo ou mais tarde, aqueles objetivos que se constroem a partir de nossas escolhas, e que chamamos de "missão", pedirão o nosso tempo e a nossa atenção.

Não sei se consigo viver fugindo de todas as responsabilidades que são criadas à medida que cresço em consciência. E, ansioso, confesso que isso me gera certo sofrimento. Saber que, inevitavelmente, colocar-me-ei diante dos desafios mais adequados à construção de mim mesmo gera, não raramente, um sofrimento que também é acompanhado por uma satisfação indescritível, devo confessar.

A dor e a alegria são amplificadas na mesma intensidade em que minha percepção do mundo cresce. Parece uma piada perceber que a percepção aumentada é, na verdade, uma tomada de consciência do tamanho de nossa ignorância. O que sentia, no início, como sendo percorrer um corredor estreito e escuro, mostra-se, com o tempo, ser vagar como que aleatoriamente num espaço sem limites, coberto de sombras. Talvez eu possa dizer que o tempo me faz mais consciente do tamanho do desconhecido. Sim, sinto que posso descrever assim.

Viver, que na infância parecia como que andar sob uma linha fina e sólida que seguiria o fluxo simples de nascer, crescer e morrer vai ganhando complexidade. Adicionam-se etapas, estendem-se momentos, retarda-se conquistas, adiantam-se acontecimentos. E a vida vai tornando-se muito, muito mais. Surgem questões sobre o como viver. Sobre o que fazer. Sobre o por que fazer. Sobre o quando. E parece sobrar pouco tempo para aquela falsa sensação da linearidade da vida.

Agora sinto-me caminhando sem direção sobre uma faixa de possibilidades grande o suficiente para me confundir, para me enganar e para fazer eu me encontrar. Perder-se em si mesmo é o mesmo que se encontrar?

Estamos tão aquém daquilo que prometemos a nós mesmos enquanto sociedade, enquanto grupos, enquanto indivíduos. Somos hipócritas, pouco conscientes, pouco confiantes, muito pouco confiáveis e bastante desconfiados. Ainda encontramos a opressão de mulheres, a discriminação de negros e a crueldade com homossexuais. Ainda usamos a religião para dominar as mentes, a política para explorar os povos e a hierarquia para massagear nossos egos. Ah, sim, como estamos aquém daquilo que poderíamos estar...

Contudo, certamente as pequenas revoluções - essas que acontecem na nossa mente, nos nossos pequenos grupos - continuarão colocando aqueles que se permitem o crescimento em caminhos repletos de possibilidades bem mais atraentes. A esperança de um mundo novo nunca morre e se renova diariamente através da nossa capacidade de nos reconhecermos, mesmo que por poucos instantes, nos outros, percebendo assim que não há mal ou bem que recai apenas sobre aqueles que nos cercam e que cada ganho ou perda individual é sempre também um ganho ou perda para a coletividade.

E o ano novo mostra-se sempre um ritual que oferece novas potencialidades, reforçando a nossa vontade de recomeçar, de fazer melhor e de mudar. Trazendo de volta a esperança de que somos capazes de alcançar um patamar mais alto de satisfação pessoal e de realização coletiva.

Para mim, tenho definido que 2011 será um ano de fazer mais para a construção de ambientes mais justos. E faz parte dos meus desejos ver que mais pessoas permitir-se-ão abandonar velhas idéias, paradigmas equivocados e convicções que prometeram trazer vida em abundância, mas que distorcidas só trouxeram escravidão das mentes e opressão das gentes.

Feliz 2011!