terça-feira, 8 de dezembro de 2009

|::| Desracionalizado

É quase como se chovesse. As minúsculas gotas parecem se rebelar contra aquela lei incontornável que nos liga a este chão. Eu estou voltando. Aquela sensação de "quase chegando" vai pedindo que os passos ganhem ritmo e rapidez. "Aceleração" é a palavra que descreve este momento. Estou voltando. Andando. Quase correndo. Pela calçada. Quase chovendo. E carros passando.


Alguém, de dentro de algum veículo, joga uma latinha de cerveja amassada que cai e quica logo à minha frente. Entendo bem pouco sobre pessoas que jogam latas pra fora de seus carros. Entendo bem pouco de pessoas em automóveis. Acho que entendo bem pouco de pessoas.

Tem lixo sobre a calçada. Sinto que estou ficando encharcado por essa chuva que molha bem mais por ser tão fina. Sei do meu despreparo e da ineficiência dessa fraca e flácida razão. Afinal, depois de tantos milênios, é bem pouco provável que eu seja mais do que um grupo de emoções e instintos pouco controláveis. Mas sempre me orgulho dessa maquiagem construída e refinada por tantas gerações que me dá alguns poucos instantes da frágil racionalidade que se dissipa nervosamente nos momentos em que mais preciso de controle.

Estou bem perto. Pego um elevador. Sozinho. Tem uma câmera que me registra. Tem um espelho que me duplica, apenas por instantes. Estou no segundo andar, a oito passos da porta. Já vou pegando as chaves na mochila. Respiro, abro a porta e entro. Estou de volta. Em casa. E sei que, afinal, sou bem pouca razão e me contento fazendo a minha parte nesse jogo de esconder o que somos.