segunda-feira, 13 de abril de 2009

|::| Ipodiando a la Saramago

Por que preciso de uma namorada se tenho um Ipod, pensava Sócrates enquanto fazia a barba em frente ao espelho embaçado do banheiro público da estação de metrô Sé. Achara uma gilete no lixo da esquina sem saber de sua crise de vocação, Sou uma gilete ou uma faca de açougue. Droga de gilete, cortei a minha pinta. Podia ser pior, disse alguém que acabara de entrar, É, eu podia ter trocado o artigo. Lavou o rosto, guardou a gilete junto com o cortador de unhas enferrujado e a garrafinha de gatorade que costuma usar como pinico improvisado, Tudo serve e o que não serve eu jogo no lixo, era a idéia central de sua filosofia. Foi no lixo que Sócrates encontrou o Ipod. Por que raios alguém joga esse tipo de coisa fora, era a pergunta que martelava sua cabeça.

A manhã tinha sido clara, ensolarada, quente, e fria quando o vento batia. Agora, meio-dia, o maltrapilho Sócrates olhando pro sol, imaginando de que serviria sua vida se encontrada num latão de lixo, Quem me pegaria e levaria consigo. Ninguém, talvez, ou mendigo, talvez, ou criança curiosa, talvez, ou o IML. Com os fones do Ipod nos ouvidos, Sócrates sente-se interiormente expandido, como se ao pressionar o play abrisse portas internas infinitas que lhe tornam grande, bem maior do que supusera. Corredores embaralhantes, pensamentos viajantes e viajantes pensantes que param frente às bifurcações da mente e decidem coisas opostas. Sem saber, ele sabe demais sobre os desejos que tantas vezes bifurcam os caminhos tranquilos suavemente desenhados por aquele eu lobo em pele de cordeiro que brinca com a gente.

Hoje ele encontra nos lixos os tesouros que anteriormente neles jogara. Primeiro pensara que havia vivido em descarado desperdício. Hoje sabe que seu lixo era o tesouro dos outros. Meu precioso, meu ipod, repetia para si, sabendo muito, mas muito pouco sobre seu tesouro mais recente. Ele sequer imagina que a playlist é limitada. Ele sequer sabe o que fará quando a bateria acabar.

Você sabe. Sim ou não.

7 comentários:

jito disse...

puta merda, kelson! haha

que texto bom, cara! Que inveja! haha
inveja principalmente por ter "saramagado" o texto, rs. Já decidi que vou usar esse estilo para os meus diálogos.

"trocar o artigo" foi genial, haha!

Quando acabar a bateria, ele terá de cruzar a terra média, em busca do fogo eterno de Metror, na montanha rolante da Liberdade. Mas claro que para isso, antes, terá que contar com a ajuda do Magro Branco, que é a única saída para chegar a fonte.

enfim..

é o que eu sei!

Alessandro Gruber disse...

Meu precioso...iPod...hahaha, muito engraçado!
Ainda bem que não tenho pinta saliente que me atrapalha para fazer a barba.
Não sou chegado a Saramago, mas o texto ficou ótimo, pois o lixo de uns são as oportunidades dos outros e minhas oportunidades podem ir pro lixo... até que um dia a bateria acaba.

Elen Gruber disse...

Não sei, ou melhor, "só sei que nada sei". ahahha

Tudo bem, Como sou uma pessoa destemida,respondo a pergunta:
Bom,imagino que talvez ele procure uma namorada, já que o Ipod voltará para o lixo!hehehe

Adorei este post, Kelson!!!

Elen Gruber disse...

ah!!! concordo com o Jito!
"É, eu podia ter trocado o artigo"

Genial!

jito disse...

hahahahaha..

Anônimo disse...

So sei que tem muita coisa boa no lixo...

jito disse...

morreu?