sábado, 2 de outubro de 2010

|::| O Menino do chão

Aqueles tantos questionamentos engolidos e abafados por tempos, vez ou outra libertam-se e produzem momentos valiosos. Sua vida, que segue sempre, indecifrável, por caminhos que inevitavelmente o levarão à sua redescoberta, conduz à realização máxima daquilo tudo o que já percebe que quer, e das outras coisas que ainda nem começou a querer. Seu último pouso, que marcou a concretização do fim de um processo iniciado sabe-se lá quando, também significou o início de uma nova viagem. Desta vez, com os pés no chão.

O mundo lá de cima, aquele dos ares, retira-se, aos poucos, dando lugar ao mundo de baixo, das escolhas possíveis e das possibilidades ao alcance dos sonhos. Ao tocar o chão, sente que é o momento de pesar os planos e de avaliar as intenções. Não há mais a liberdade dos ares. Não há mais a liberdade dos tantos lugares e da vida sempre em trânsito. Mas agora há liberdade para iniciar a construção de si mesmo. A liberdade para a definição de seus desejos.

Esse menino, que é o mesmo ao mesmo tempo em que é tão novo e diferente, acordou no chão, na Terra, e agora poderá unir à visão privilegiada que teve lá de cima, a experiência concreta de tocar, por tempo indeterminado, com os pés, o chão.

Será que quando der seus primeiros passos por aqui ele ainda será capaz de manter aquelas confusões que o fizeram ser assim tão diferente? Será que após desembaralhar-se e aterrisar no lugar onde começará a construir uma nova parcela de si mesmo, ele verá que o alto e o baixo, o céu e a terra, o lá e o aqui são sempre o mesmo lugar de sempre? Que, afinal, ele nunca estará longe de si: o único lugar onde pode estar.

Um comentário:

Unknown disse...

Kelson,
adorei os dois textos (menino do aviao, menino do chao). Eles sao muito bem escritos, alem de mostrarem a sua sensibilidade, perspicacia e analise das suas percepcoes. Achei fantastico e muito carinhoso. Excelente trabalho. Continue!