domingo, 4 de abril de 2010

|::| A solidez das transformações

Atravesso a minha vida oscilando entre o cômodo abandono das descobertas e a curiosidade tímida que silenciosamente vai me levando a novos patamares de consciência. Não sei bem se é um caminho com alguma direção ou sentido, pois com frequência nem realmente me dou conta das mudanças que ocorrem. Sei que cada vez que volto para casa me sinto um pouco diferente. É natural que seja assim, ainda que nem sempre seja natural notar esse processo.

Em pouco mais de meio século de experiências nesta mesma matriz material com que me relaciono com o mundo, alcancei bem poucas certezas e, embora dizer isso seja um tremendo clichê, uma delas é a de que as dúvidas e as questões não solucionadas só aumentam. Ao contrário das certezas, que quase sempre significam o fim de um caminho, as dúvidas sempre nos colocam diante de bifurcações, onde necessariamente precisamos fazer escolhas. E as escolhas realmente existem, mesmo que em alguns momentos pareçam se esconder de nós.

Às vezes eu me vejo como um processo de construção interminável. Cada escolha feita é um novo tijolo sendo adicionado. Nesse processo, é impossível destruir algo que já foi feito e tudo faz parte de um todo desajeitado que sou eu.

Em outras vezes, eu me vejo como um processo de reforma interminável em que cada escolha significa a substituição de uma parte de mim. Nesse processo, tudo está sempre à beira de ser transformado, deslocado, alterado e refeito. Cada escolha leva, necessariamente, à reinterpretação do que quer que eu esteja me tornando.

Cada nova ligação que se concretiza entre meus neurônios gera não apenas um aumento de minha rede de conhecimentos, percepções e capacidade cognitiva, mas também a possibilidade de completa reinvenção de minha natureza. Afinal, sempre nos enxergamos a partir de uma perspectiva muito bem fundamentada sobre os processos absolutamente dinâmicos e móveis aos quais damos o nome de "existência".

Existe beleza na percepção de que nada que façamos pode impedir a inevitabilidade da transformação? Existe algum lugar no universo onde poderíamos nos esconder do movimento? Talvez, eu esteja alcançando mais uma das poucas e raras certezas: o movimento é tudo o que existe e tudo o que existe está em movimento.

Não há nada tão sólido quanto o movimento.

3 comentários:

Unknown disse...

Profundo...

Anônimo disse...

Já tinha a sensação de "cada vez que volto para casa me sinto um pouco diferente". Mas agora fiquei com a pergunta se um tijolo é adicionado ou se uma parte é substituída...Mas...precisa ser um ou outro? Acho que vivemos os dois processos....reforma e construção!

bjs

Elen

Alessandro Gruber disse...

Pelo jeito você recebeu um bom presente de aniversário!
Muito bom ver esse blogue novamente na ativa. Não sei se isso é melhor para seu blog ou para você, ou para os dois.
Pelo menos, uma coisa é certa, os dois estão se movimentando.

Boa Semana!!