sábado, 15 de agosto de 2009

|::| Talvez

Não sei se brinco de me enganar, se me engano brincando, ou se me engano que me engano. Talvez. Aquela sensação que sobra, depois que os perfumes penetrantes evaporam, depois que escurece, é de falta. De vazio. De desperdício. De decepção.

Talvez eu tenha preferido os enganos. Talvez eu esteja pagando os preços. Os juros, ainda, por ter recebido tanto de uma vez.

É claro, tento entender. Sempre tento. E, sem entender, me desentendo, comigo, com meus enganos, com meus ganhos, talvez.

Será que sou tão cego? Será que sou tão surdo? Porque quanto mais tento ver, menos vejo. E como tenho tentado ouvir, mas não ouço. Ouço nada, e vejo nada. Nenhuma intenção, nenhuma vontade, nenhuma mudança. E se só eu me enganar? Basta? E se só eu me bastar? Basta?

Ah, como eu me engano. Sim, como eu me engano!

Será que isso é tudo? Será que é só isso? A parte que me cabe, a herança a que tenho direito, o presente que recebi, é isso? Tal vezes em que são feitas brincadeiras de mau gosto.

Ou eu fecho os olhos e me esforço pra continuar enxergando o que não está mais à minha frente, ou eu abro os olhos e me esforço pra viver sem aquilo que está só na minha mente.

Ah, como eu me engano. Ah, como eu me canso.

E se o sábio estiver certo, e se é sábio, certamente estará, havendo tempo pra tudo, a hora vai chegar. Porque esperar, mesmo sentado, até mesmo deitado, cansa.

4 comentários:

Alessandro Gruber disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alessandro Gruber disse...

É, esperar cansa mesmo. Mas, entre as opções que você coloca, acho que "Ou eu fecho os olhos e me esforço pra continuar enxergando o que não está mais à minha frente" parece ser uma opção interessante, já que se você se esforçar, vai continuar enxergando. Se esforçando, a espera fará sentido, porque não estará esperando sentado, até mesmo deitado, estará se esforçando e fazendo, isso não cansa.

Camila disse...

Muito inspirador e muito verdadeiro. Gostei de como você empregou a luz/escuridão; a ironia nas declarações que foram escritas. Profundo. Não pude decidir qual parte me chamou mais a atenção, mas sem dúvidas a sua conclusão foi fatal.

jito disse...

camila.. ???

kel, quase concordo com o Ale. Quase!
Agi dessa forma minha vida inteira, e olha.. não deu muito certo, haha! Mas continuo agindo, pois continuo acreditando, sempre.

Abrir os olhos, hoje, parece-me a melhor opção. Mas isso é pra mim, que passei 25 anos "de olhos bem fechados".
Não sei, mas to afim de romper o véu de Maya, e encarar viver no mundo real, independente de como ele seja, ou esteja.

Agora, que cansa, cansa. Pior, chega um dia em que vc percebe que ficou ali, parado, por tanto tempo, que já está perdendo a capacidade de se mover. Entende?

abraço!